A manhã desta quinta-feira (03/11) foi nervosa e confusa para o povo do norte do Japão.
Às 07h50, horário local, alarmes antiaéreos soaram nas Prefeituras de Miyagi e Yamagata. Os programas de televisão foram interrompidos para pedir às pessoas que procurassem abrigo.
A guarda costeira japonesa informou que um míssil disparado da Coreia do Norte estava indo em direção ao Japão. Mísseis norte-coreanos já cruzaram o país antes – um deles no mês passado -, mas nunca tão ao sul.
Mas o míssil lançado nesta manhã não entrou no espaço aéreo japonês. Segundo fontes militares sul-coreanas, ele falhou em pleno voo e caiu, mergulhando no mar.
Então, os japoneses puderam se acalmar e voltar para seu café da manhã tranquilamente? A resposta é não.
Em primeiro lugar, disparar mísseis balísticos na direção de países vizinhos, sem aviso prévio, deixando-os adivinhar onde eles vão cair, não é um comportamento normal.
Este é um ato extremamente provocativo e perigoso, completamente fora das normas internacionais.
Lançar mísseis é uma ameaça à aviação e ao transporte marítimo. Se o projétil falha, detritos podem cair sobre a população.
Em segundo lugar, o episódio ocorre um dia depois de a Coreia do Norte lançar um número recorde de mísseis no mar ao largo da costa da Coreia do Sul.
Além disso, esta ação ocorre poucos dias antes das cruciais eleições de meio de mandato nos Estados Unidos.
O líder norte-coreano, Kim Jong-un, espera que a exibição de sua força militar concentre a atenção na capital dos EUA.
O que Kim Jong-un está aprontando?
A Coreia do Norte está deliberadamente aumentando as tensões com seus países vizinhos.
Analistas acreditam que Kim Jong-un está se preparando para algo maior, como um teste nuclear ou um teste de mísseis balísticos de longo alcance no Oceano Pacífico – ou ambas as coisas.
Todo esse barulho tem um objetivo político.
É um padrão que Pyongyang, capital do país, usou em 2010 e novamente em 2017.
A ideia é elevar as tensões a um nível grave e depois pedir compromissos e concessões da Coreia do Sul, Japão e Estados Unidos.
É quase certo que Pyongyang está fazendo exatamente isso agora.
Mas Kim Jong-un tem um segundo objetivo. A Coreia do Norte ainda está longe de aperfeiçoar sua tecnologia de mísseis.
Depois de lançar um deles no espaço, a ogiva se desprende e retorna à Terra em um “veículo de reentrada”. Isso deve ser capaz de suportar o enorme calor e pressão gerados pelo mergulho na atmosfera.
Em testes anteriores, parece que os veículos de reentrada norte-coreanos falharam. Portanto, Kim Jong-un precisa continuar fazendo testes para aperfeiçoar sua tecnologia.
O míssil desta quinta-feira parece ter voado no que é chamado de “trajetória de elevação”, voando alto no espaço, a cerca de 2.000 km, e depois desceu abruptamente.
O objetivo poderia ser um teste de um projétil de longo alcance, sem sobrevoar o Japão. Se o teste de hoje foi mais um fracasso, a ação apenas mostra o quanto Pyongyang ainda tem espaço para melhorar a tecnologia.
Mas o objetivo final não é apenas ameaçar a Coreia do Sul e o Japão. A Coreia do Norte já pode fazer isso.
Trata-se de ameaçar os Estados Unidos com um míssil balístico intercontinental com capacidade nuclear, os chamados ICBM. O teste de hoje certamente terá chocado aqueles que ouviram o som das sirenes.
Se a intenção da Coreia do Norte é intimidar o Japão, o efeito pode ser oposto.
Os testes de Pyongyang, juntamente com as recentes ameaças da China a Taiwan, estão tendo um impacto profundo na política japonesa.
Por décadas, a direita japonesa pediu que a constituição pacifista do pós-guerra fosse descartada e que o país investisse em armamento.
Até agora, a maioria dos japoneses comuns não quer dar esse passo.
Mas isso está mudando, e agora as autoridades de segurança têm toda a justificativa para seguir em frente. Em dezembro, o governo japonês vai propor a duplicação do orçamento de defesa na próxima década e a compra de armas de ataque de longo alcance.
Os relatórios sugerem que o Japão está negociando a compra de centenas de mísseis de cruzeiro Tomahawk dos Estados Unidos. Isso significaria que, pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, o Japão teria a capacidade de atacar alvos dentro da China e da Coreia do Norte.
Fonte: BBC